BLOG Cotidi-Ana
No último parágrafo do texto, João Vicente faz referência a um texto que ele leu. Aos interessados - apaixonado (?) by L.A.
Para quem não leu a PARTE II do conto que contamos - PARTE II
Ao escrever essa parte final, já me vejo com saudades de Márcia e João Vicente; mais dela do que dele. Saudades daquele seu charme "faroeste caboclo" com ginga carioca e do jeito que ela me fez sentir.
Conversamos de absolutamente tudo!
Ela era de família grande e convencional, oposta a minha que também é grande mas nem tão convencional assim. Apaixonada por cavalos e cães (me mostrou a foto de algo que ela diz ser um cachorro e eu fiz cara de quem acreditou). Tem medo de moto mas disse que me deixaria levá-la para dar uma volta. Disse que cozinha bem mas que era melhor eu não arriscar porque poderia me apaixonar. Contei a ela tudo sobre minha paixão por longas viagens de carro e ela, delicadamente, fez cara de interessada.
Até planos de viajar fizemos!
Ela ficou de me mostrar o Rio de Janeiro, mesmo eu afirmando que vou para lá quase todo mês. Eu fiquei de apresentar Paraty e suas peculiaridades arquitetônicas. Ficamos de descobrir juntos um museu de nome engraçado (que não me lembro mais) perto de Belo Horizonte.
Claro que é cedo para tudo isso, mas a conversa está animada. Estamos nos divertindo. Por que nos ater apenas ao que faz sentido? Ao convencional? Aliás, quem é que decide o que faz ou não sentido, o que é convencional? O que podemos ou não conversar?
Estamos simplesmente nos deixando levar.
E por falar nisso, muita conversa, mãos dadas, pernas encostadas por baixo da mesa, filezinho e porção mista de pasteis, mas nada de beijo na boca.
Sei que a culpa é minha. Quer dizer; sei que a responsabilidade é minha. Um amigo meu sempre diz: “O papel do homem é tentar; o da mulher é dizer não (se não quiser)”. Mas o fato é que sou péssimo nessa hora.
Resolvi propor um desafio: “Vamos pedir tequila?”
Ela aceitou. Quando a bebida chegou eu disse: “Body shot?”
Que sorriso maroto ela me deu!
Um pouco de sal no seu ombro, tomei a tequila e busquei, comportadamente, o limão em seus lábios. Era a vez dela.
Um pouco de sal no meu pescoço, tomou a tequila e então explodimos em um delicioso (e nada comportado) beijo. Aquele beijo forte, molhado, interminável.
Sempre acho “primeiros beijos” um assunto delicado. Tô colocando a língua de mais ou de menos? Abrindo a boca de mais ou de menos? Que diabos de movimento é esse que ela está fazendo? Tá me beijando ou tá me lambendo?!
Com Márcia não teve nada disso. Pelo menos para mim, nosso beijo era perfeito. Era como se fôssemos amantes de longa data que haviam acabado de se reencontrar no aeroporto depois de uma longa viagem separados. Tudo naquele beijo me era familiar e ao mesmo tempo tinha sabor de novidade.
As pernas não estavam mais apenas enconstadas por baixo da mesa. Nossas mãos já haviam se esquecido umas das outras e buscavam pernas, costas e nucas. Conversar era a última coisa que nossas bocas desejavam.
Não sei precisar quanto tempo ficamos assim. Mas sei que o bar ficou inapropriado para nós dois e resolvemos que era hora de irmos embora.
“Você me leva? Vim de taxi”. Disse ela.
O que mais eu poderia querer ouvir?!
Grande amigo e solteiro convicto, Luiz, escreveu recentemente um texto no qual dizia: “se aparecer uma Morena Linda, parceira e de sorriso fácil, talvez eu me apaixone...”
Com essa frase na cabeça, andando de mãos dadas, e um gosto delicioso na boca, fomos para o meu carro.
Ela...
Depois de conversarmos sobre estarmos solteiros, planos futuros e sua irmã Lu, percebi que João Vicente estava dando satisfação. Pontuando algumas coisas para que eu entendesse seu interesse. E talvez seja essa sutileza que me encanta nos paulistas.
Nossa conversa parecia um jogo de frescobol de perfeito entrosamento. O papo fluía fácil, quando um falava, o outro continuava, ou completava. Até quando as palavras faltavam ele ia lá e as pegava para mim. Estava sendo uma descoberta descobri-lo. Desde o fim com o Fabrício que eu não me encaixava tão bem com alguém.
Me diverti com as histórias dele de família, totalmente diferente da minha, família de Goiânia é tudo meio matuta, certinha. Já a dele parece ser aquela coisa meio junto e misturada, meio calça de moletom, sabe? Gostosa demais, mas que pode passar vergonha às vezes na rua. Quando que meu pai levaria minha mãe para andar de balão no dia das mães com primo, neto, cachorro e papagaio? No máximo faríamos um passeio com os cavalos da fazenda até uma cachoeira – local que quase não vamos mais depois que mudamos para o Rio.
Mas, minha paixão continua viva lá na Hípica e adoraria que João Vicente conhecesse a Dorothy, e quem sabe, desse uns saltinhos com ela. Mas para mim, andar de pedalinho na Lagoa ou dar uma volta com o Astor já estava mais do que suficiente.
Às vezes essa afinidade toda muito rápida me assusta. Estava solta e travada ao mesmo tempo. Acreditava não acreditando naqueles planos todos, inclusive de viagem e descobertas de museus em Minas Gerais, não sei literalmente de onde tirei essa ideia louca! Homens costumam fazer de tudo para ganhar uma mulher, possuem tantas habilidades que conseguem seduzir até uma samambaia. Porém, mesmo cética, era fato que eu estava envolvida quase apaixonada a ponto de cozinhar um banquete para ele de cinta liga.
Até que página acreditamos e nos deixamos levar como se fosse um “encontro de almas”? Até a página que ele não liga no dia seguinte depois do sexo, nos deixando apenas com a plaquinha do “Eu já sabia”? Ao mesmo tempo ao continuar cética assim, me fecho para encantamentos maravilhosos e coisas possíveis. Triste dilema dos apaixonados calejados que acreditam muito no amor, mas que no fundo acham que não é para eles.
Minha cabeça não parava de pensar entre o posso ou não posso, nossos corpos davam choques agora só de se esbarrarem e através dos olhares nos devorávamos. Não enxergava ou ouvia mais nada ao redor daquele bar. Sua boca ao falar já estava em 3D para mim e agora só tinha um pensamento que me atormentava: “Por que esse cara não me beija?”
Quando ele me propôs o desafio de bebermos tequila, saquei na hora. Ele está muito interessado. Homens pouco tímidos quando envolvidos, perdem o jeito de chegar em uma mulher, acho eu. Aí precisam de um empurrãozinho para se soltar. Achei ótimo, pois eu também estava precisando de um mata leão nos malditos pensamentos.
Quando ele falou “body shot”? Tive que rir!
Não teve jeito, não podia ser diferente, ao mesmo tempo em que a tequila queimou até a espinha João Vicente me dominou por inteira com o beijo mais agridoce dos últimos tempos. Esqueci onde estávamos, que tava fora da cidade e que trabalhava amanhã. E foi muito bom me sentir viva, pulsando.
Nós mulheres nos preocupamos tanto com tantas coisas - que esquecemos de dar valor quando realmente nos interessamos por alguém. Acho tão difícil isso acontecer hoje em dia que passei a ficar feliz quando quero ir para cama com alguém de primeira.
Só sei que não queria desgrudar dele ainda. Saíamos do bar e caminhando pela rua com as mãos frias e suadas de nervoso, nos olhamos e sem pensar entrei em seu carro.